O PARADOXO DA FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA: A FUNÇÃO PATERNA NO DISCURSO HOMOPARENTAL E TRADICIONAL

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Alencar Venâncio Silva Tognon
Carol Godoi Hampariam

Resumo

A família contemporânea é marcada por uma pluralidade de configurações, em que a função do pai, que outrora era central no núcleo familiar, se encontra em discussão a respeito de um possível declínio devido a várias transformações sociais. Todavia, é mantido no imaginário social, um modelo ideal de família respaldado nos moldes da família nuclear burguesa, popularmente conhecida como família tradicional, em que estruturas desviantes desta, trariam supostos agravamentos psíquicos ao filho. A família homoparental, em especial, é alvo de grandes polêmicas em torno de seus direitos civis, surgindo argumentos supostamente científicos que afirmam que a função paterna estaria agravada nessa configuração, e por isso seriam impróprias para se constituírem enquanto tal. Desse modo, este estudo teve como objetivo investigar a partir da perspectiva dos pais, indícios de como a função paterna se configura na família contemporânea, identificando possíveis vicissitudes de dois modelos familiares distintos. Para isso, foram entrevistadas cinco famílias homoparentais e cinco famílias tradicionais, a partir de um roteiro semiestruturado que foi aberta a discussão a respeito do exercício da parentalidade e das representações existentes sobre família, e sendo analisados os resultados por meio da Análise de Conteúdo de Bardin, com o recurso de levantamento de categorias, discutidas posteriormente com base na psicanálise. Obtiveram-se três categorias de respostas: (1) O Paradoxo da Família Contemporânea, em que foram discutidas as alternâncias de funções, que escapam muitas vezes das normas de gênero estipuladas culturalmente, o peso da consanguinidade, a existência de um Outro que aparece como um empecilho na efetivação dos laços familiares e sobretudo, o medo da não adequação de uma norma social; (2) Paternidade Paradigmática, em que é discutida a função paterna apresentada da mesma maneira a qual foi teorizada por Freud, só que exercida por agentes diferentes, não dependendo da norma de gênero para que ela se apresente, tendo a castração desempenhada pelas famílias homoparentais, muito mais fadada na liberdade do sujeito, diferentemente da família tradicional que estabelece normas e um seguimento já fixo na cultura; e (3) O Lugar dos filhos que não surpreende, em que é discutido o lugar de falo que o filho vem ocupar para os pais em ambos modelos familiares, havendo a delegação de uma possível completude para a paternidade, que passa ser o centro da composição familiar, ofertando um possível norteamento na vivência dos pais, que outrora parecia faltosa. Conclui-se que a função paterna se apresenta no contexto da família contemporânea independe do gênero do agente que efetua, cujas funções são rearranjadas em cada realidade familiar, tendo em vista que a padronização de um modelo de família é prejudicial até mesmo para a família tradicional que também mudou e se mantém a mercê de uma norma dificilmente atingível. A multiplicidade de diferenças que marca a realidade familiar contemporânea, talvez venha a ofertar aos frutos dessas configurações, uma proximidade maior com seu desejo singular, rompendo-se de ideais e padrões estipuladas imaginariamente pela sociedade.

Palavras-chave: Novas Configurações Familiares. Função Paterna. Psicanálise.

 

REFERÊNCIAS:

 

CECCARELLI, P.R. Novas Configurações familiares: Mitos e Verdades. Jornal de Psicanálise, São Paulo. 40(72):89-102, jun/2007

 

FREUD, S. Obras completas de Sigmund Freud coleção Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

 

LACAN,J. Seminários e Livros de Jacques Lacan. Jorge Zahar Editor. Rio de Janeiro, 2005.

 

LEGUIL, C. O ser e o gênero: Homem e Mulher depois de Lacan. São Paulo: EBP, Escola brasileira de Psicanálise, 2016.

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Seção
HUMANAS E SOCIAIS