LITERATURA DE FRESTA: CONTOS DE ORIXÁS COMO SÍMBOLO DE EDUCAÇÃO E RESISTÊNCIA

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Gabriel Nogueira Garoni
Paulo Rogério Ferrarezi

Resumo

A intolerância religiosa é uma forma de violência, física ou simbólica, que tem por objetivo a negação e a supressão de uma religião em detrimento de outra. Essa intolerância é um retrato do racismo cultural presente desde o tempo da colonização. Uma das formas de manifestação dessa intolerância, no Brasil, é o apagamento da cultura das pessoas trazidas da África e do seu povo, prática iniciada com os Jesuítas e latente até hoje. No entanto, felizmente, nos dias atuais, vemos cada vez mais religiões de matriz africana, como a Umbanda e o Candomblé, vencendo as iniquidades sociais e assumindo seu lugar de fala. O presente trabalho nasce da realidade vivenciada como umbandista e busca questionar as manifestações da intolerância religiosa no âmbito educacional e avaliar como a literatura se faz presente (ou não) ao trazer representatividade à uma cultura que por tanto tempo foi rodeada de tabus. O arcabouço teórico do trabalho parte do artigo 5º da Constituição Federal de 1988, o qual assegura a igualdade religiosa e reforça a laicidade do Estado brasileiro para posterior apresentação e questionamento do ensino religioso como disciplina da educação básica brasileira cujo objetivo principal é propor reflexões sobre fundamentos, costumes e valores das várias religiões existentes na sociedade, conforme a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Também são parte do aporte teórico Ferreira (2021) no que se refere à influência da religião na educação; Reis (1992), Muzart (1995) e Dourado (2014) acerca da canonização de obras literárias e o engessamento das leituras de vestibulares e Rufino (2021) sobre a descolonização da educação. Vale ressaltar que a pesquisa tem como ponto fundamental a proposta de análise do conto ¿Oxum: Amor é Merthiolate e não band-aid¿, de Rodrigo Santos, a fim de avultar a literatura na promoção do sincretismo religioso, favorecendo assim o tratamento do texto literário para a discussão acerca da temática. Nas escolas, a intolerância religiosa ainda se faz fortemente presente, e legalizada, por meio do proselitismo de religiões cristãs. Na literatura, veem-se obras de origem europeia como referências canônicas de leitura, enquanto a cultura e a religião de matriz africana poderiam ocupar espaços paralelos, disseminando histórias e promovendo sua afirmação cultural. Tais narrativas cumpririam a função de apoiar os sentidos de identidade e pertencimento, dando sustentação tanto à afirmação cultural quanto à afirmação étnica. Narrativas que regidas pelo signo da resistência e da diversidade incitem a uma outra lógica que permita olhar através das frestas e vazios deixados pela dominação colonial.


Palavras-chave: Literatura afro. Matrizes africanas. Descolonização.

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Seção
HUMANAS E SOCIAIS